Viajar é olhar a arquitetura em tudo, na cidade, nas obras, nos objetos. Tudo se complementa. Neste breve relato, a respeito da Feira de Milão e o Fuori Salone, que aconteceram há um mês em Milão (Itália), gostaria de compartilhar uma ideia da parte urbana com seus bairros, ruas, espaços para interações sociais (praças, museus); da arquitetura que compreende a construção de edifícios novos, respeitando o velho ou ignorando-os (bairro CityLife); e dos objetos (carros, talheres, mobiliário, catraca do metrô) que interferem diretamente no modo de vida das pessoas que as utilizam o tempo todo, sem sequer pensar a respeito da importância do seu desenvolvimento e a interferência no dia a dia.
Como elementos desta análise, a Feira de Milão e o Fuori Salone ditam ideias, conceitos, resultantes de todas estas influências e que refletem mundialmente na arquitetura e chegam ao nosso lado, dentro da nossa casa, na roupa que vestimos, nos restaurantes que comemos, dentro do nosso pensar e agir.
A Catedral Duomo, hoje sendo restaurada, em respeito à sua importância histórica arquitetônica e a cultura italiana, encontra-se no centro de tudo. Convido a olhar por meio dos detalhes construtivos dela para o seu entorno. Podemos observar guindastes, novas edificações e o novo pensar das pessoas que estão habitando estes lugares.
Focando no bairro City Life, composto de arquitetura high tech, desconstrutivista, onde foi implantado desde um novo shopping até edifícios sustentáveis como, por exemplo, o Bosco Verticale é possível observar um gramado central onde as pessoas descansam e ao deitar sentem a vibração do metrô passando no subsolo, o que faz lembrar que a cidade não para. Os parques possuem manifestações artísticas neste período de Feira e em meio às obras é possível observar as crianças correndo, absorvendo tudo com extrema naturalidade.
Visitar o museu Trienalle di Milano, principal museu de design da Itália, proporciona uma imersão em produtos italianos e é um roteiro inspirador de design de Milão. Nele é possível observar, por exemplo, todas as características estéticas do carro Fiat 500, produzido milhares de exemplares com menor custo pela Fiat.
Já no Fuori Salone, que engloba diversos lugares da cidade, dezenas de manifestações arquitetônicas com novas ideias são vistas durante o período da Feira Milão. Um destes espaços é a Audi House of Progress, cuja exposição está situada no antigo seminário de 1565, apresenta seu protótipo de veículo com ideias sustentáveis/inovadoras de materiais recicláveis, envolto por uma arquitetura inovadora que se comunica e respeita a edificação histórica. O mesmo se pode observar na BMW.
Quando falo da conexão com o urbano, um bom exemplo é o Orto | Botânico de Brera, de 1774, que contou com a exposição de uma grande pista de madeira, provocando um percurso interativo ao público com o tema da mobilidade urbana, conscientizando sobre a escolha e o uso de veículos elétricos e sustentáveis, agora como uma obrigatoriedade na Europa.
Continuando no mesmo raciocínio, a Universidade de Milão, antigo complexo hospitaleiro de 1456, expôs várias mostras de alunos e grandes empresas de arquitetura de maneira livre, estudos de cores (Pantone), aplicação de materiais, ambientes sensoriais, para promover a sinergia entre diferentes saberes.
Mas por que estou falando tudo isto? Porque o que é apresentado dentro da Feira de Milão se manifesta e reverbera por toda a cidade. Na Feira de Milão, as cores, tecidos e materiais se comunicam ao observarmos, as novas cadeiras dos Irmãos Campana (loja Edra), já o estudo de materiais pode ser visto, tanto nas cadeiras em acrílico derretido, na cor vibrante amarela (estudo de pantone) quanto na exposição dos alunos na Universidade de Milão. As cores marcantes, como o verde militar que foi muito explorado por diversos fabricantes, encontram-se em várias vitrines nas lojas das cidades. Estes detalhes, por mais que não nos falem, entram pelo nosso olhar de maneira inconsciente e criam um novo conceito, que ao chegar ao meu escritório se aplicam em cada projeto que crio. Este é o encanto de viver a arquitetura.
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